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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Forasteira.

Caia a noite na cidadezinha tão longe do céu e todos os habitantes insólidos puderam ver pela primeira vez, como num deslumbre, a sombra compacta da estranha que por ali rondava.


Ninguém perguntara a ela, nem mesmo tentaram acenar de longe, como estava deslocada.

Onde todo mundo se conhece, quem não sabe donde vem é que tem medo de se reconhecer.

Na avenida central, a banda se remexe. Porque é domingo. E domingo domina o cloreto.

Mas a gente sempre sabe, sabe que aquela menina que ronda hoje por aqui, não nos pertence. Nos olhos dela esta a calma de quem vê o que não se sente.

Estamos a observar, aonde quer que vá.Qual é o preço da destilação de origens? Eu pago

Pra ver do que é feito o mel de seu olhar, que me gruda. Cola logo em mim que te carrego bem longe daqui, pronde não te caçam.


No crepúsculo que despedia o dia, ela morou comigo por longos anos eternos, e nos viramos

Juntos para sumir deste lugar inóspito, hipócrito. Já de repente

O mundo estava num misto de rosa choque vermelho vivo laranja mecânico.

Ela se afasta, peito arfando, decidida a se mandar dali. Eu quero que saiba que pode voltar

Mesmo sabendo que de nada adianta. Afundo na cidade que um dia fundara.


Mal me quer-bem me quer, sei que não voltará pra essa terra sem estranhos. Temo

A chama das horas que me deglutirão,

Sozinho

Bem no meio da cidade amada.