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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O papel


não falo que é pra você, porque é feia demais.
mas falo que é para um mundo de revoltas momentâneas,
de um presente torpe e esperançoso.
É a alegria de ter um papel para gritar,
colocar tudo que você não quer pensar.
Usá-lo como lixo sim, ele aguenta,
ele é meu músculo mais forte,
ele é que consegue carregar todo o meu corpo ferido, moribundo.
O papel, para ele, dedico todas as minhas dores.
É ele quem traz todas as flores que não mereço ganhar.
Meu presente, meu passado, meu céu, minha ilusão.
Tudo bem guardado,
quem sabe no lixo,
quem sabe numa outra gaveta,
quem sabe... por ai
E o mais intrigante:
ele, mesmo quanto não serve mais,
procura ser usado.
Ele, são minhas lembranças.
Ele, são minhas dúvidas, minhas decisões.
Ele, o papel...

Pedro Cotrim..

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

pela madrugada

A noite dorme enquanto as luzes se acendem.
Momentos de sonhos intermináveis
dominam a vasta névoa que compreende meu ser.
Vontade de saltar, mas o abismo perde altura.
Agora, a queda não causaria nem arranhões.
Resta prosseguir, acreditando,
buscando o que jamais pensei encontrar.
Basta entregar-me às noites de sono.
As luzes tornam a dormir...

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O azul do mundo.

Fui jogada pelo vento
Fungando e mendigando
Ao som de nada mais
Que aquele choro
Sem graça que diz
Nada
Da vida, do terno e da alma.

Me jogo contra a história
que não acaba
e por esse eterno
fim
não vem pelas estações 
do ano. 

Tirando as preces,
nada mais declaro.
A parte do dia
a noite não cala.
E os dizeres que escorrem
fogem 
de mim
antes que os note
e registre
e fuja
e perceba,
em fim,
que lugar nenhum pertence a mim.

Nessa roda sem
precedentes
fugazes
declaro a morte
de tudo que deixou
de ser
de estar
de vir
de me amar. 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

feliz... o quê?


tantos dias de poesia, tantas horas de solidão, tantos lugares sonhados, tantas pessoas longe... desilusão

esperanças finitas, fantasiadas de pra sempre. morte esperada, espera distanciada... vontade renovada


certezas absolutas, tão reais quanto o vazio, pleonasmo, vício que corta e costura... língua


sentimentos, bagunça organizadinha, verdades que um dia virão... lentas


anos, novos que se vão, velhos que estão... felizes neste, para estes loucos poetas taberneiros


vida, tantos, sonhos, esperas, absolutos, bagunças... velhas redundâncias

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Ilusão acordado...


caminhar na areia branca,
calar-me, sentir as ondas tocar os pés,
sorrir, ver Deus,
sentir as ondas tocar os pés!

fugir daqui, buscar a paz,
tentar sorrir, sem lembrar do mais,
ser feliz, sonhar, voar
lembrar o dia, olhar pra traz...

chorar por ver, não ser capaz,
fugir do mundo, tentar voltar,
estar aqui,  querer fingir,
sorrir, mentir, cair, sumir.

rasgar o peito, tocar o ar,
sentir as nuvens, sentir cortar,
dormir dos outros, não mais olhar,
querer a ti, não ter em mim!
Dúvida? Vontade de não ser poema. Querer da vida, formas simples, não redondas. Tratar as sombras, como sombras mesmo, fugir de monstros, enfrentar dilemas...

Ar? Ter chance de escolher. Leve, voar, como balão perdido. Fazer dos ventos, morada sem fim...

Vida? Pra quê? Tão mais fácil dormir, sentir o peso de panos, que se vão pelo ar. Transformar o eu, quem sabe ainda encontrar-me...

Paz? Incógnita, utopia, dor! Fazer do certo o correto, rir por não acreditar no incerto. Ter a certeza de não querer existir, por ser simples...

Morte? Quem sabe a razão? Terminar o ontem todos os dias, definhar. Sentir prazer por esperar, deixar sonhos, viver!

Afaga meu afeto,
Destrói meu concreto, constrói...
Faz o inesperado, momento mágico,
Faz-me (re)acreditar!

Toca a alma,
Bagunça o novelo, tece...
Transforma em sonhos,
Revida vida!